Essa talvez seja a pergunta de um milhão de dólares no mundo dos “remixers”. Acostumados a subir o set inteiro em plataformas não monetizáveis, os selos e artistas, muitas vezes, ficam receosos de fazer o upload de seus trabalhos nas outras plataformas.
Um remix é feito quando um produtor musical ou DJ pega uma canção de outro artista e muda os principais elementos do arranjo, geralmente acrescentando batidas eletrônicas dançantes e efeitos, mas ainda mantendo partes da gravação original. Por ser uma nova faixa que envolve conteúdos de terceiros, nem sempre colocar um remix nas lojas digitais é um processo simples. Entenda:
Para colocar um remix nas plataformas, é necessário avaliar o contexto de sua criação. Basicamente, existem dois casos: o remix que o DJ faz de livre e espontânea vontade e o que o artista original o contrata para produzir.
No primeiro caso, para que a faixa possa ser incluída nos principais serviços de streaming, é necessário licenciar o uso da canção original e dos samples (amostras) da gravação original. Dentro da legislação, esses são dois elementos distintos, e, neste caso, não é possível negociar apenas um deles. Os autores ou as editoras que os representam devem ser contatados, bem como o selo, gravadora ou o dono da gravação. Você pode consultar essas informações, por exemplo, nos bancos de dados de entidades como a UBC e a Abramus, porém a maneira mais fácil é o contato direto com a label ou o artista.
O outro caso é quando um artista contrata os serviços do produtor para um remix. O DJ poderá cobrar um valor do artista por essa produção e os direitos de comercialização desse novo fonograma ficam com o artista. Nesse caso, não há uma porcentagem significativa sobre as rendas para o produtor, geralmente ficando restrito ao que o ISRC da faixa aponta como direito conexo nos casos de execução pública. Também poderá haver outro tipo de negociação, de modo que os direitos e rendas sobre o remix sejam divididos entre DJ e artista.
Tanto os responsáveis pela obra quanto pela gravação podem pedir o pagamento de uma taxa para essa liberação, e é comum que o detentor do fonograma também peça uma porcentagem sobre as rendas no streaming. Essa prestação de contas deve ser feita pelo produtor do remix (ou seu selo/representante) e o pagamento pode ser realizado tanto pelo próprio ou pela distribuidora, caso tenha ferramentas para isso. Com a Brazility, é possível dividir a arrecadação sobre o remix de forma automática, bastando apenas que você inclua responsáveis extras no seu produto.
Com essas licenças, você está pronto para cadastrar o ISRC do seu remix e colocá-lo à disposição do público nas plataformas. Não tendo essas liberações de obra e fonograma, seu remix não está protegido juridicamente e se você adicionar às lojas digitais, corre o risco de remoção do conteúdo e penalização do criador.
Os Bootlegs e o seu papel na vida do artista
Os bootlegs nada mais são que músicas nas quais a sua autoria não foi liberada para remix. É possível encontrar remixes não autorizados em diversas plataformas como Spotify, Deezer, porém o artista/selo que distribui esse tipo de conteúdo, como mencionado, corre o risco de remoção e pode responder inclusive judicialmente caso não se encaixe nas situações descritas nesse post.
Os bootlegs costumam ser polêmicos, o próprio Vintage Culture contou em uma entrevista no AIMEC que se aproveitou de bootlegs para crescer, e que foram importantes na construção da sua carreira, recentemente um bootleg lançado sem muito alarde em 2016 chegou ao topo da parada de singles britânica, trata-se de “Roses” de Saint Jhn, um rapper norte-americano de ascendência guianense, a faixa foi remixada pelo jovem DJ cazaque Imanbek Zeykenov e, aos poucos, ela começou a ganhar fôlego em diversos países.
Imanbek tentou entrar em contato com o rapper pelo Instagram e não obteve resposta, mesmo assim o artista lançou a música sem autorização e o resto é história. Zeikenov (o nome verdadeiro do artista), agora obviamente já sabe que virou um artista de sucesso e está celebrando. “Eu acordei com a notícia de que “Roses” é a canção número 1 no Reino Unido! Eu jamais ganhei nada em toda a minha vida. Eu realmente me sinto como se tivesse ganhado algo, mano”, escreveu ele no Instagram para celebrar o feito.
Imanbek nasceu na pequena cidade de Aksu, trabalhava com transporte ferroviário, mudou a sua vida com uma uma música, com um bootleg, e não, isso não é um incentivo para você sair distribuindo bootlegs por aí, ainda que seja comum e plenamente legal que faixas desse tipo sejam executadas em discotecagens e live sets, esse tipo de conteúdo não deve ser comercializado de forma plena, há limitações para os bootlegs (SAIBA MAIS AQUI).
Considerações Finais
Bem, já comentamos a maneira correta de enviar seus remixes para as plataformas digitais, e sobre remixes não autorizados: os bootlegs. Sabemos que é gostoso trabalhar uma track de seu artista favorito e fazer a sua versão da mesma, porém tenha muito cuidado com o que você faz com esse conteúdo, plataformas como o iTunes e o Spotify têm políticas rígidas contra a distribuição desse tipo de material, se você decidir que vai tentar algo como o Imanbek, saiba que pode colher bons frutos, como aconteceu com o mesmo, ou ter uma enorme dor de cabeça, faça a sua escolha. 🙂